A dependência química tem assolado a sociedade mundial. A prevenção e o tratamento de dependentes químicos são assuntos pouco ou nada conhecidos na maioria dos países. As condições presentes e as metodologias empregadas atualmente nas clínicas na reabilitação de dependentes são, no geral, pouco ou nada eficazes. Daí a necessidade do entendimento cada vez mais amplo e profundo tanto da dependência como da co-dependência química, motivo da existência desse blog.
O FLAGELO DO AVANÇO DO
CRACK E DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Autoria:
Marcos da Costa. Advogado e presidente
da OAB SP.
De acordo com dados do Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crime (UNODC), a presença do crack no Brasil vem crescendo
assustadoramente. Em 2002, 200 quilos da droga foram apreendidos. Em 2007, a
apreensão totalizou 578 quilos, equivalente a 81,7% do crack apreendido na América
do Sul. Diante desse cenário, o país precisa voltar sua atenção à
preocupante questão do consumo de substâncias psicoativas ilícitas,
principalmente o avanço do crack, que vem se configurando como um dos graves
problemas sociais do mundo.
O flagelo do crack está atingindo a população
brasileira, independente da classe socioeconômica ou da faixa etária daquele
que consome esse tipo de droga. As cracolândias não se concentram mais em áreas
degradadas das cidades, grandes ou pequenas, já invadiram as casas, as escolas,
as empresas, os espaços públicos, demonstrando que não tem limite em fazer
novos reféns, entre crianças, jovens e adultos.
Diante do poder viciante e letalidade do crack e do
despreparo do Poder público em tratar tantos dependentes químicos, o tratamento
obrigatório surgiu como uma proposta de sociedade e se materializou em um
convênio firmado entre o governo do Estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça,
o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo para
que aqueles que estejam em iminente risco de vida possam ter uma alternativa de
sobrevivência.
Os dependentes químicos vivem uma realidade de degradação
humana, perambulando pelas ruas e escondidos em “buracos”. Há um vale-tudo para
sustentar o vício, filhos que agridem e roubam os pais, filhas que se
prostituem, laços familiares que se diluem diante de tanta violência, a
ressaltar a quebra social intensa. O destino da maioria dos usuários de crack,
segundo o levantamento, é morte por overdose ou ser vítima de homicídio.
O censo de 2010 traz um novo dado alarmante: o
número de usuário já estaria em 2,3 milhões de brasileiros. A maior parcela dos
dependentes de crack é formada por homens jovens, mas o consumo feminino vem avançando,
sendo que hoje temos o registro de centenas de casos de mulheres grávidas dependentes.
Certamente, não poderíamos enquanto sociedade viver
com medo e insegurança; dispostos a abdicar de direitos e garantias; mas
tínhamos de buscar alternativas para enfrentar o desafio de uma solução
temporária, capaz de dar uma resposta à população.
Dessa forma, o serviço jurídico que funciona no
Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), na capital
paulista, está mobilizando advogados, juízes e promotores para que os dependentes
químicos em situação de risco e sem consciência de seus atos sejam encaminhados
a tratamento ambulatorial e internação, após avaliação médica e judicial.
Esta é mais uma importante contribuição da comunidade
jurídica à cidadania e um passo importante na política de saúde e de direitos
humanos e no enfrentamento do crack. Nesse pacto, os advogados e demais operadores
do direito fortalecem seu papel social, porque materializam as possibilidades de
colaboração efetiva da Justiça e buscam reduzir os prejuízos causados pela dependência
química.
MENORES
DE IDADE PODERÃO TER TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA FINANCIADO POR CARTÃO
RECOMEÇO
Programa anunciado pelo governador Geraldo Alckmin
Ronaldo Laranjeira, coordenador do programa Cartão Recomeço, explicou que
o tratamento, apesar de ser direcionado a maiores de 18 anos, poderá ser
oferecido a menores de idade. Como cabe a cada município identificar quem
precisa da recuperação, caso haja entidades especializadas em atendimento a
adolescentes, os menores poderão ser beneficiários.
— Se tiver comunidades especializadas em menores de
idade, o cartão poderá financiar.
Além disso, Laranjeira esclareceu que o programa
não é voltado necessariamente a famílias pobres.
— Isso é relativo. Eu não ficaria com nenhuma
exclusão social. Os municípios vão decidir dentro dos habitantes da região quem
está precisando de cuidado. Não importa a classe social.
O edital para o credenciamento das entidades que
trabalharão em parceria com o programa será lançado na próxima semana. O
secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, explicou que as entidades
interessadas devem cumprir alguns pré-requisitos como protocolo de serviços a
serem prestados, estrutura de recursos humanos, assistentes sociais, psicólogos,
oficineiros, instalações adequadas e serão fiscalizados pelo Estado.
Inicialmente, serão disponibilizados 3.000 cartões
para 11 municípios do Estado: Diadema, Sorocaba, Campinas, Bauru, São Jose do
Rio Preto, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José dos Campos, Osasco,
Santos e Mogi das cruzes.
DEPENDENTES
QUÍMICOS: "A RECUPERAÇÃO SE DÁ DE MÃOS DADAS"
O
Seminário sobre Dependência Química, encontro realizado pela Sociedade Bíblica
do Brasil (SBB), que aconteceu em 31 de agosto de 2012, pelo quinto ano
consecutivo, em parceria com as Comunidades Terapêuticas em Rede (COMTER) e o
Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas (COMAD) no Centro de Eventos de
Barueri – MuBi, em Barueri (SP), tendo como tema "A recuperação se dá de
mãos dadas", ganhará edições em Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e
Belo Horizonte, ainda este ano. A relevância da iniciativa levou à decisão de
replicar o evento em outras cidades brasileiras, sempre com o objetivo de
contribuir para reverter uma preocupante estatística: segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), estima-se que, no Brasil, 3% da população sejam
dependentes químicos, ou seja, 6 milhões de brasileiros.
O
secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert, que, em Barueri,
apresentou a palestra "A Bíblia e a Família", ressalta que "no
processo de recuperação, é fundamental que os familiares da pessoa com
dependência química estejam envolvidos. Para que isso ocorra, a família
necessita de apoio, orientação e esperança. Neste aspecto, a Bíblia e a sua
mensagem se configuram em uma ferramenta essencial, tanto para a pessoa em
recuperação quanto àqueles que estão ao seu lado".
Outra
palestra, "Entendendo a Família no Processo Terapêutico", foi
ministrada por Silze Morgado, coordenadora do Centro para Tratamento de
Dependência Química Vila Serena. O programa também teve apresentação do Coral
Nova Visão, do Instituto Benemérito Angelina Salvatore (Ibasa), encenação
teatral da Trupe Rodapé, apresentação das Comunidades Terapêuticas em Rede
(COMTER) e exibição do vídeo "Bíblia Despertar".
Participaram
dirigentes de comunidades terapêuticas e seus internos, representantes de organizações
não governamentais, órgãos públicos e igrejas, além de profissionais da área e
interessados no assunto. Estes segmentos terão mais quatro oportunidades de
participar do seminário em 2012.
CERCA DE 1,5 MILHÃO DE PESSOAS CONSOMEM MACONHA
DIARIAMENTE, APONTA ESTUDO
Autoria:
Pesquisadores da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Publicado no iG São Pauloem .
Levantamento
Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) realizado por pesquisadores da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que 1,5 milhão de adolescentes e adultos
consomem maconha diariamente no País.
Ainda
de acordo com o estudo, divulgado nesta quarta-feira (1º), 7% da população
adulta - 8 milhões de pessoas com idade entre 18 e 59 anos - já experimentou
maconha alguma vez. Só no último ano, 3 milhões de adultos fumaram maconha.
Entre
os adolescentes, 600 mil - 4% da população - usaram maconha uma vez na
vida. No último ano, 470 mil (3%) consumiram a droga.
Os
pesquisadores indicam que 60% dos usuários consumiram a droga pela primeira vez
antes dos 18 anos, um em cada dez homens adultos experimentou a droga uma vez
na vida, mais de 1% da população masculina é dependente, quase 40% dos adultos
usuários são dependentes e 1 em cada dez adolescentes que usam maconha é
viciado.
Sobre
a legalização da maconha no Brasil, 75% dos entrevistados se disseram
contrários à proposta. Outros 11% apoiam, 9% não souberam responder e 5% não
responderam.
Foram
entrevistadas 4.607 pessoas em 149 municípios, com idade a partir de 14 anos. A
amostragem, de acordo com os coordenadores do estudo, é representativa.
Diferentemente da primeira pesquisa, feita em 2006, os entrevistados no atual
levantamento responderam a um questionário sigiloso sobre consumo de drogas.
Para
o coordenador da pesquisa, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, um dado preocupante
é a proporção entre usuários adultos e adolescentes. Em 2006, existia um
adolescente para cada adulto que usa maconha. Em 2012, a proporção aumentou
para 1,4 adolescente por adulto. Em 62% dos casos, os usuários experimentaram a
droga pela primeira vez antes dos 18 anos.
“Se
as leis ficarem mais frouxas em relação ao uso da maconha, o maior prejudicado
vai ser o adolescente. Qual vai ser o impacto em relação à saúde mental desses
adolescentes? É isso que os dados nos alertam. A pessoa que já é usuária não
vai mudar o padrão de consumo. Quem pode mudar o padrão de consumo, de acordo
com a nossa atitude legislativa, é o adolescente”, avalia.
PAÍS TEM 2,6 MILHÕES DE
USUÁRIOS DE CRACK E COCAÍNA
Autoria:
1 - Fernanda Aranda-
iG São Paulo| ;
2 - Alan
Sampaio / iG Brasília.
Uma pesquisa divulgada hoje (5) mostra
que o Brasil tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína, sendo metade deles
dependente (1,3 milhão). Deste total, 78% cheiram a substância exclusivamente
(consumida na forma de pó); 22% fumam (crack ou oxi) simultaneamente e 5%
consomem apenas pelos cachimbos, que já viraram marcas registradas das áreas
degradas e conhecidas como cracolândias.
O estudo Levantamento Nacional de Álcool
e Drogas (Lenad), unidade de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), mostra ainda que, do total de usuários, 1,4 milhões (46%) são
moradores da região Sudeste e 27% residem no Nordeste. No ranking de regiões, o
Norte aparece em 3º lugar (10%) empatado com o Centro-Oeste. O sul, com 7% de
concentração, está em último lugar.
“Fizemos
as análises por classe econômica e, diferentemente do esperado, não houve
nenhuma diferença estatística. O padrão de consumo de cocaína, seja aspirada ou
fumada, é o mesmo entre os ricos ou entre os pobres”, afirma uma das autoras do
estudo, a psicóloga Clarice Sândi Madruga. “Uma das hipóteses para este cenário
é que o preço da cocaína está muito mais barato, o que facilita o acesso.”
Para
os pesquisadores os achados sugerem que assim como a cocaína se popularizou e
chegou à classe média e média baixa, o crack também deixou de fazer parte
apenas dos problemas da população de rua e da marginalidade, como era no início
da epidemia. A droga hoje afeta todos os segmentos socioeconômicos.
“Não
há no mundo país que venda cocaína de forma tão barata. Em média, o preço da
venda aqui é U$ 2 nos Estados Unidos custa 10 vezes mais”, completa o
psiquiatra Ronaldo Laranjeira, também autor do estudo da Unifesp e que
investiga o padrão de uso de drogas em todas as nações, sendo consultor de
muitas delas.
“Além
disso, os governos não fizeram a lição de casa nos últimos anos. Não há um
combate efetivo do tráfico drogas e, ao mesmo tempo, não foi ampliada a rede de
prevenção dos novos usuários e nem o aumento da oferta de tratamento para os já
dependentes.”
Primeiro
do mundo
Marcelo
Ribeiro, um dos primeiros pesquisadores de álcool e drogas do País a estudar o
comportamento de usuários de crack, avalia que o potencial de consumidores
destas drogas existentes no Brasil fez com que, nas últimas duas décadas, o
país mudasse de papel na rota dos tráficos de drogas.
“Por
ser muito populoso, o Brasil deixou de ser só local de passagem das drogas para
virar destino final de consumo.”
Pelos
dados da Unifesp, 2% da população brasileira usaram cocaína ou crack no último
ano. Apesar de proporcionalmente parecer pouco, em números absolutos é muita
coisa, diz a especialista em álcool e drogas, Ilana Pinsky.
“Isso
sem contar que quando o assunto é sensível, como o caso da dependência química,
as pessoas tendem a não ser totalmente verdadeiras nas respostas. Com quase
toda certeza, a população usuária de drogas é maior do que a identificada na
pesquisa”, avalia Ilana.
Mesmo
que subestimada, os 2,6 milhões de brasileiros que se declaram, sendo 1 milhão
deles consumidor de crack, já somam 20% do total de consumidores mundiais de
cocaína, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) utilizados pela
Unifesp. “Em números absolutos, nos mostram os dados da OMS, o Brasil é o
segundo mercado de cocaína do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e
provavelmente o primeiro do mundo de crack, já que os outros países não separam
a forma de consumo, aspirada ou fumada”, ressaltou a psicóloga Clarice Madruga.
Mais
letal
Apesar
da cocaína em forma de pó ser a mais prevalente entre os dependentes, os
especialistas ressaltam que quando consumido na versão crack os efeitos são
mais rápidos na degradação do cérebro.
“O crack está mais associado à mortalidade e
ao envolvimento com a criminalidade”, afirma Laranjeira. “O uso da cocaína
é mais escondido, embaixo do pano, mas nos números mostram que eles são muito
altos e prevalentes. Na Europa toda há um declínio da utilização. No Brasil,
percorremos caminho inverso”, lamenta.