Blog “Dependência e
Co-dependência Química”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel. Disponível em
http://dependenciaecodependenciaquimica.blogspot.com.br/
Autoria:
1
- Carlos Alberto Sobral. Instituto Municipal de Ensino Superior - IMES –
Catanduva – SP.
2
- Paulo Celso Pereira. Centro Universitário UNIFAFIBE – Bebedouro – SP.
RESUMO
A dependência química é considerada pela
Organização Mundial de Saúde como uma doença crônica, catalogada no DSM IV. Tal
doença causa sofrimento psíquico e precisa ser tratada numa perspectiva
biopsicossocial. Assim, no tratamento do dependente químico é preciso
conhecê-lo, como também seu contexto familiar. Embora a co-dependência de
familiares seja reconhecida, são poucos os serviços de atenção para a família.
Diante dessa constatação, foi realizada uma revisão da literatura para saber
foi produzido no Brasil na última década
sobre a dependência química, com enfoque especial na co-dependência.
Foram selecionados 54 artigos, dos quais
33 eram relatos de pesquisa, 19 teóricos e 2 de novas técnicas. Nenhum delas
abordava a questão da co-dependência.
INTRODUÇÃO
O uso abusivo de substâncias – álcool
e/ou droga, constitui um grave problema social e de saúde pública, por isso e
por atingir um grande número de pessoas ao redor do mundo, é um fenômeno
amplamente discutido (Pratta & Santos,
2009), inclusive no Brasil. Mas, ao contrário do que se pensa, o consumo
de droga é umaprática milenar e universal (Toscano Jr., 2001), tanto que,
Carranza e Pedrão (2005), comentam que a história da dependência de drogas se
confunde com a própria história da humanidade. É preciso esclarecer que o
referido uso, em cada momento histórico e social, tinha uma proposta: rituais,
cultos religiosos etc.
Embora cigarro (tabaco) e álcool possam
ser classificados como drogas, as quais são licitas no Brasil, restringindo o
alcance dessa expressão, droga é considerada como qualquer substância natural
ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções. As drogas podem
ser assim classificadas: (1)depressivas;
(2)alucinógenas e (3)estimulantes
(Anti-Drogas, 2010).
Na atualidade, em especial, no mundo
ocidental, a dependência de drogas é uma questão penal e de saúde pública –
crime e doença, respectivamente. O uso
de entorpecentes enquanto um ato ilícito está previsto no artigo 22 da Lei
11.343, de 23/08/2006 (Brasil, 2006).
Na década de 80 a Organização Mundial de
Saúde (OMS) reconheceu a dependência química como doença. Em razão da proposta
do presente trabalho será abordado aqui a dependência química enquanto uma
doença médica crônica e como um problema social, como preconiza a Organização
Mundial de Saúde (2001).
Segundo o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV, publicado pela Associação
Psiquiátrica Americana (2000), a característica primordial da dependência de
substâncias (álcool e/ou droga) corresponde à presença de um conjunto de sintomas
cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Mas, considerando que a droga, no
caso da dependência, passa a exercer um papel central na vida do indivíduo
(Silveira Filho, 1995), preenchendo lacunas na esfera psíquica e social, é
preciso considerar que além dos sintomas físicos e mentais, existe a questão
social. Desse modo, na atualidade, é preciso discutir a dependência química
dentro de um modelo biopsicossocial. Assim, na proposta de Leite (2000) o
tratamento do dependente químico deve abranger além do indivíduo, as diversas áreas
de sua vida e, segundo a proposta deste trabalho, inclusive sua família, o que
remete a questão da co-dependência.
Assim, considerando a co-dependência,
isso sem perder de vista o grande poder de destruição da dependência química,
ou seja, do sofrimento psíquico que produz no usuário, é imprescindível
conhecer os mais diversos aspectos que interferem na vida dos familiares do dependente
para que se possa prestar uma assistência psicossocial mais efetiva e completa
aos indivíduos que estão em volta do dependente químico. O co-dependente pode
ser qualquer individuo que esteja em contato direto com o dependente químico, a
saber: familiares, amigos, vizinhos, cuidadores etc. (Beattie & Melody,
2007). Considerando a proposta do presente trabalho o foco central da
investigação será a co-dependência da família.
Segundo Zampieri (2004), a
co-dependência pode ser definida como um transtorno emocional característico de
familiares ou de pessoas da convivência direta de dependentes químicos, de
jogadores patológicos e de pessoas com transtorno de personalidade. De acordo com
Ballone (2010), na co-dependência há um conjunto de padrões de conduta e
pensamentos patológicos que produzem sofrimento psíquico.
Assim, por se tratar de um transtorno
que se traduz em sofrimento para a vida do co-dependente, tal como do
dependente químico, se torna insustentável não oferecer assistência
profissional ao co-dependente que, seja como forma de defesa, modificando
substancialmente seu estilo de vida, não apenas no que diz respeito a sua interação
com o dependente químico, mas com as demais pessoas, seja do convívio familiar,
social e do trabalho, inclusive, consigo mesmo (Moraes, 2010). E mais, assim
como o dependente químico, o co-dependente fica vulnerável em qualquer
situação, hora se sentindo culpado pelo sofrimento do doente e da sua situação familiar,
hora acreditando que é vítima das atitudes do dependente químico (Zampieri,
2004).
Considerando a importância da família na
vida do dependente químico e ainda, das interações que se estabelecem entre família
e doente, faz-se necessário que o tratamento dispensado a este seja extensivo
aos familiares, além, é claro aos demais (amigos, vizinhos etc.) que estejam
diretamente ligados ao dependente químico. Dentro dessa perspectiva, ficar atento
aos sinais e sintomas da co-dependência parapoder atuar junto aos familiares.
Na assistência ao dependente institucionalizado ou quese encontra em tratamento
ambulatorial, dar atenção também à família é fundamental (Wenzel & Paula,
2010).
Embora a demanda envolvendo a
dependência química ea co-dependência entre familiares e pessoas diretamente
envolvidas com o dependente químico vem crescendo ao longo das últimas décadas
(Wenzel & Paula, 2010), observa-se na prática que nessa questão da
dependência química os serviços para a família ainda são insipientes. Desse
modo, a proposta do presente trabalho é analisar a produção cientifica sofre a
questão da dependência química nos últimos dez anos, visando conhecer, dentro
desse acervo, ou seja, desse universo o que está sendo discutido pela
comunidade cientifica brasileira a respeito da co-dependência da família do
dependente químico.
Considerando a questão do uso abusivo de
substâncias (droga e/ou álcool), o objetivo do presente estudo foi conhecer o
estado atual da literatura científica sobre dependência química, por meio da
revisão bibliográfica, para investigar a ocorrência de pesquisas e publicações
que tratam da co-dependência dos familiares, de modo a: (1) analisar as publicações científicas
produzidas no Brasil nos últimos dez anos sobre dependência química; (2) identificar
o tipo de artigo, a natureza do estudo e os participantes (número, idade e caracterização)
e (3)dentre o acervo encontrado, analisar o que está sendo pesquisado sobre a co-dependência
dos familiares e sobre que temas os
artigos tratam dentro da perspectiva da co-dependência dos familiares.
MÉTODO
A pesquisa bibliográfica desenvolvida
foi operacionalizada mediante busca eletrônica de artigos indexados na base de
dados Scielo, privilegiando os periódicos que tratavam de temas relacionados à
saúde mental, com o emprego depalavras-chave que pudessem remeter a publicações
que abordavam a dependência química e/ou a co-dependência dos familiares. A proposta
foi a de fazer uma revisão da referida literatura nos últimos dez anos.
PROCEDIMENTO
Para a condução da revisão da literatura
foram usados os seguintes procedimentos de busca: (1) procura junto à bases de
dados Scielo os periódicos que, pelo seu título remetiam à questão da saúde
mental, sendo selecionadas 10 revistas cientificas; sobre o tema pesquisado;
(2) as revistas selecionadas foram
acessadas, na home page de cada uma a
busca se deu por assunto, por meio das seguintes palavras-chave: droga,
droga ilícita, dependência
química e co-dependência; (3)os artigos
encontrados passaram a fazer parte do acervo a ser analisado;
(4) realizou-se a leitura dos resumos
visando uma primeira análise das publicação (artigos) encontradas;
(5) leitura na íntegra dos artigos para finalizar a análise e (6) compilação dos dados obtidos de modo a
responder aos objetivos do presente estudo.
RESULTADOS
Os resultados obtidos com a coleta de
dados foram agrupados e analisados de modo a responder aos objetivos deste
estudo. Foram encontrados 54 artigos científicos, publicados em 10 periódicos,
os quais publicam temas relacionados à saúde mental. Na Tabela 1 podem ser visualizados
os títulos desses periódicos e o número de artigos que foram localizados em
cada um deles.
Dentre os 54 artigos encontrados nas 10
revistas listadas na Tabela 1, 33 foram relatos de pesquisa; 19 artigos
teóricos, destes 16 sobre a revisão da literatura e três abordando a análise
conceitual (teórica) e, dois artigos versavam sobre nova técnica (um
apresentando um instrumento de avaliação/psicodiagnóstico e outro sobre
intervenção). Cumpre esclarecer que para a presente análise foi considerado, (1)
relatos de pesquisa, o texto científico que apresentava explicitamente
referências a informantes ou a instrumentos de coleta de dados; (2) artigos
teóricos, todos aqueles que envolviam análises conceituais, artigos de estado
da arte (meta-análise) e artigos de revisão de área e (3) nova técnica, aqueles artigos que se referiam
claramente à descrição de novos equipamentos, procedimentos, técnica e instrumentos.
A Figura 1 ilustra essas modalidades de artigo, bem como a sua frequência.
Nos artigos de relatos de pesquisa, que
foram a grande maioria, o artigo que teve o menor número de participantes, foi
uma pesquisa que versava sobre o estudo de caso de uma pessoa, portanto, um
participante e, o trabalho que contou com o maior número de sujeitos tinha
5.040 participantes, estudo esse realizado ao nível nacional. Vale dizer que
dentre todos os artigos de relatos de pesquisa, três foram ao nível nacional,
visando conhecer aspectos dos brasileiros quanto ao consumo de droga/álcool.
Quanto às características dos
participantes, no que diz respeito aos artigos sobre relatos de pesquisa, 10
trabalhos foram conduzidos com adolescentes, sendo que dois destes estudos
trabalharam com pessoas do sexo feminino; 10 foram com estudantes, destes, um
foi com alunos do Ensino Fundamental e Médio (portanto,seguramente, eram
adolescentes), dois com estudantes do curso de Medicina, um com estudantes de
Biologia e um com estudantes dos seguintes cursos de graduação: Educação
Física, Fisioterapia, Nutrição e Psicologia; nove com pessoas adultas de ambos
os sexos; dois com adultos do sexo masculino; um por meio de pesquisa a
prontuários de dependentes químicos que
eram atendidos em Unidades Básicas de Saúde e um que entrevistou
Promotores de Justiça e Juízes de Direito.
Quanto aos temas / assuntos pesquisados,
foram os mais diversos, desde a associação entre uso abusivo de substância e
trânsito ao uso de droga injetável e contaminação pelo vírus HIV, dentre esses
extremos encontrou-se: gravidez na adolescência; doenças mentais (psicopatologias)
em comorbidade com o uso abusivo de droga e/ou álcool, o adolescente em conflito
com a lei ou em situação de rua e drogas,
legislação, ética, etc. No entanto, com essa revisão não foram
encontrados artigos que tratam da dependência química, bem como não foram
localizados trabalhos sobre a co-dependência
da família. É oportuno dizer que foi encontrado apenas uma publicação
que tratava das relações familiares, mas no que se refere à parentalidade e um
trabalho teórico sobre dependência química ao longo da história.
Com relação aos artigos teóricos, sete
se deram por meio de consulta a base de dados; cinco pela revisão da literatura
geral; três via revisão de artigos; dois analisaram leis, um textos e outro,
prontuários.
DISCUSSÃO
O presente estudo cumpriu seu objetivo
ao revisar a literatura nacional, dos últimos dez anos para saber o que se tem
pesquisado sobre a dependência química e, mais exatamente, a respeito da
co-dependência dos familiares. Considerando os periódicos que abordavam o tema
da saúde mental dentro da perspectiva da psicologia e da psiquiatria foram
localizadas 10 revistas cientificas e 54 artigos, número expressivo, no
entanto, nenhum deles abordava, especificamente, a questão que se pretendia
investigar, a saber, o que as produções cientificas estão discutindo sobre
dependência química e co-dependência da família ou co-dependência de um modo
geral, portanto, a presente revisão de área revelou uma lacuna na literatura nacional
sobre esses assuntos.
No entanto, antes de discutir essa
lacuna, é importante falar da relevância científica, social e acadêmica da
publicação de artigos e como pode ser produtiva a revisão da literatura a
partir da análise dessa fonte de dados.
Foi com o surgimento da ciência
experimental no século XVII que apareceram os primeiros periódicos científicos,
pois é um veículo de comunicação de resultados de pesquisas eficaz para
divulgar e disseminar as novas descobertas científicas do que outros meios,
como por exemplo, a correspondência (Hayashi, Hayashi, Lima, Silva &
Garrutti, 2006). Desse modo, os periódicos se tornaram uma importante via de
publicação da produção científica, bem como os livros, teses, dissertações etc.
Segundo Campello e Campos (1993) o periódico científico tem três funções, a
saber: (1) registro público do conhecimento; (2) a função social e (3) a função
de disseminar informação.
Feitas as considerações acima acerca da
importância de periódicos científicos para a sociedade de um modo geral e,
voltando ao tema do presente estudo, embora a literatura nacional contemple
vários estudos sobre o tema do consumo abusivo de substâncias (drogas e/ou
álcool), não foram encontrados estudos que tratavam da co-dependência da
família, pois pensando na abordagem sistêmica, bem como sob o modelo
biopsicossocial, não tem como falar de consumo de álcool e/ou drogas ilícitas e
da dependência química, sem considerar o contexto familiar e social mais amplo
que o usuário está inserido e mais, que o sofrimento psíquico do dependente
químico se torna o sofrimento de sua família, que também adoece e, os comportamentos
de um acabam por influenciar e determinar os comportamentos do outro e vice-versa.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Concluindo, dentro do tema consumo de
álcool e/ou droga o presente estudo revelou que a literatura nacional apresenta
uma grande lacuna no que se refere a um importante tema de pesquisa, a saber, a
co-dependência da família. Além do fato desta adoecer juntamente com o seu
membro que é dependente químico, não tem como pensar no tratamento deste sem considerar
o contexto social e familiar em que está inserido e, assim, proporcionar
programas de intervenção para as famílias.
Diante dos dados obtidos com este
trabalho, fica a sugestão para o desenvolvimento de estudos sobre
co-dependência, para que possam oferecer subsídios teóricos e práticos aos profissionais
e instituições que trabalham com indivíduos que são dependentes químicos e suas
respectivas famílias.
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