Blog “Dependência e Co-dependência Química”,
de autoria de Superdotado Álaze Gabriel. Disponível em http://dependenciaecodependenciaquimica.blogspot.com.br/
A
FAMÍLIA DO DEPENDENTE QUÍMICO
O uso e o abuso de substâncias químicas por
um indivíduo não só o afetam diretamente como também prejudicam e atingem a
todas as outras pessoas que estão à sua volta.
Por isso a dependência química é também considerada
uma doença familiar, pois atinge aos membros da família adoecendo-os
lentamente. Podemos dizer, também, que ela é uma doença comportamental e
social.
A estrutura da família se modifica quando um
membro se torna D.Q.. Geralmente os valores são incompatíveis e, como o grupo familiar
precisa sobreviver, as famílias se desorganizam e se disfuncionalizam. A comunicação não é saudável, geralmente ruidosa
e tensa, o ambiente tornar-se sem regras e limites, as pessoas passam a se
relacionar com ressentimentos, normalmente são ansiosas ou, não suportando a
pressão, podem deprimir. Neste sistema disfuncional o tema central da família
passa a ser o abuso de substâncias e, frequentemente, os membros desta família
usam defesas primárias como negação, projeção e racionalização para lidar com o
conflito. Frequentemente, nas famílias do D.Q., notam-se níveis altos de violência,
agressividade e abusos de uma maneira geral.
É comum em famílias de dependentes químicos notar-se
uma falta de regras, limites, hierarquia, liderança, comunicação, moral ou
ética.
O
IMPACTO EMOCIONAL
A família é um sistema dinâmico e em
constante transformação que cumpre sua função social transmitindo os valores e
as tradições culturais.
O impacto que a família sofre com o uso de
drogas por um de seus membros é correspondente às reações que vão ocorrendo com
o sujeito que as utiliza. Devido a este impacto, a família progressivamente
passa por 4 estágios:
1.
No primeiro estágio, prepondera o mecanismo de negação,
ocorrem tensão e desentendimento, as pessoas deixam de falar o que realmente
pensam e sentem.
2.
No segundo estágio, a família toda está preocupada com
essa questão, tentando controlar o uso da droga e do álcool, assim como todo o
resto (no campo do trabalho e convívio social), portanto é comum que as
mentiras e as cumplicidades apareçam nesta fase num clima de segredo familiar,
mantendo a ilusão do controle, “não falar do assunto como se estivesse causando
problema para família”.
3.
No terceiro estágio, a desorganização da família é
enorme, os membros passam a assumir papéis rígidos e previsíveis servindo de
facilitadores, responsabilizando-se por ações que não são suas e sim dos
dependentes químicos, ocorrendo inversões de papéis, facilitando com isso que o
DQ não se responsabilize por suas ações, nem as decorrentes do uso e nem das
conseqüências do mesmo.
4.
O quarto e último estágio é caracterizado pelo cansaço
emocional, podem surgir graves distúrbios de comportamento em todos os
familiares, podendo levar até ao afastamento entre eles gerando grave
desestruturação familiar.
Os principais sentimentos da família que
convive com DQ’s são: raiva, ressentimento, descrédito das promessas de parar,
dor, impotência, medo do futuro, falência, desintegração, solidão diante do resto
da sociedade, culpa e vergonha pelo estado em que se encontra.
A melhor defesa de uma família contra o
impacto emocional do abuso de drogas e da dependência química é adquirir
conhecimento, alcançando assim a maturidade e coragem necessárias para usar esse
conhecimento. De fato, para que um programa eficiente de recuperação aconteça, o
familiar em geral precisa de mais assistência e orientação do que o próprio DQ
(ou paciente identificado).
Como já mencionamos anteriormente,
dependência química é uma doença que tem um grande impacto sobre os familiares.
Quanto mais distorcidas ficam as emoções dessas pessoas, mais inadequada fica a
ajuda. A interação entre o D.Q. e sua família pode tornar-se destrutiva em vez
de construtiva, como por exemplo, os mais próximos serem sistematicamente
acusados ou responsabilizados por todas as suas dificuldades. Nenhum indivíduo
é responsável pela dependência de drogas de outra pessoa ou por sua
recuperação. No entanto, por falta de conhecimento, aqueles mais próximos podem
permitir que a doença não seja detectada, até apoiar o seu desenvolvimento e
contribuir para que o tratamento seja evitado. Por outro lado, através da
compreensão do problema e com coragem, o familiar pode tomar atitudes que levam
o DQ a uma recuperação antecipada - apesar de que isto não pode ser
absolutamente garantido.
As pessoas diretamente envolvidas na vida do
DQ não podem “tratar” da doença. Na medida em que a dependência química
progride, aqueles mais próximos do DQ ficam emocionalmente envolvidos.
Inicialmente, a melhor ajuda que eles podem
dar ao DQ é procurar auxílio e orientação para sua própria situação,
para que eles não façam o papel de coadjuvantes no padrão de doença progressiva
da dependência de drogas. Antes de mais nada, é preciso compreender que a
família pode fazer tudo que é conhecido e dado como certo e, no entanto a
doença pode prosseguir sem controle. Precisamos pensar na família como um
sistema operante, onde todos os membros da família têm seus papéis e fazem
parte de uma engrenagem. Assim, quando o DQ entra em recuperação, isto inclui a
recuperação da doença emocional familiar. E a maneira de começar a ajudar na
recuperação do DQ é começar trabalhar a si mesmo.
FALANDO
SOBRE CO-DEPENDÊNCIA
Em 1987, um folheto distribuído em um serviço
de treinamento sobre D.Q. e a família, patrocinado pelo Johnson Institute of
Minneapolis, descreveu a Co-Dependência da seguinte forma:
“Um
conjunto de comportamentos compulsivos e inadaptáveis adquiridos por membros de
uma família que passa por estresse e grandes dores emocionais como forma de
sobrevivência.”
Essa definição refere-se a comportamento
adotado por familiares de um DQ para sobreviver, mas que se tornou destrutivo.
É necessário adquirir novos comportamentos, em vez de tentarmos obsessivamente
controlarmos os outros (DQ). Aprendemos a desligar em vez de permitir que
alguém nos use e nos magoe, estabelecemos limite em vez de reagirmos, agimos e
permitimos que as coisas entrem nos eixos. Deixamos de nos concentrar no que
está errado e passamos a observar o que está certo. Aprendemos a nos
relacionar, aprendemos a amar a nós mesmos.
Recuperar-se também significa lidar com
quaisquer outros assuntos ou comportamentos compulsivos que encontramos em
nosso caminho. A co-dependência é furtiva e enganosa. E também progressiva
senão tratada.
TRATAMENTO
·
Grupos de
Mútua Ajuda: Têm como base os 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. Representam
uma fonte importante de apoio para a recuperação de muitas pessoas que procuram
ajuda para problemas com drogas. Trata da questão da co-dependência como uma
doença de relacionamentos num sistema familiar em que um dos membros pode ser
quimicamente dependente.
·
Abordagem
Sistêmica: A família é vista como um sistema que se mantém em equilíbrio. A partir
desse enfoque busca a mudança no sistema entre os membros da família pela
organização da comunicação.
·
Terapia
de Grupo Familiar (Co-dependente): Trabalha a conscientização da doença do
DQ e da própria doença (CO-DQ), dos comportamentos de negação, controle e
facilitação, trabalhando o desligamento emocional, a conscientização da
impotência, aprendendo a ser mais assertivo e responsável, libertando-se aos
poucos da culpa e da raiva.
O terapeuta familiar deve estar atento, pois
de modo direto ou indireto a família busca ajuda para o sofrimento de seu
familiar.
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