Blog “Dependência e
Co-dependência Química”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel. Disponível em
http://dependenciaecodependenciaquimica.blogspot.com.br/
Autoria:
Tatiana
de Castro Amato. Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) –
Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de Mestre em
Ciência. São Paulo, 2010.
METODOLOGIA
Este projeto foi realizado no
Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo –
Escola Paulista de Medicina, junto ao “I Levantamento sobre o uso de
drogas entre estudantes de ensino fundamental e médio da rede particular de
ensino do município de São Paulo”, no Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas (CEBRID). Contou com o apoio financeiro da Fundação de
Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) por meio de auxílio pesquisa e bolsa de
mestrado. Contou também com o apoio
financeiro da Associação Fundo de Incentivo à Psicofarmocologia (AFIP).
“A ciência não progride quando os modelos são
confirmados pela investigação, mas quando certas anomalias forçam os cientistas
a questioná-los”. Rubem Alves
RESUMO
Este estudo teve por objetivo explorar
como a resiliência e alguns de seus aspectos se relacionam aos diferentes
padrões de uso de drogas por adolescentes. Foi composta uma amostra
representativa de estudantes de escolas particulares de São Paulo (Brasil),
selecionada por estratos e conglomerados. Os dados foram coletados através de
questionário de auto-preenchimento aplicado em sala de aula. Para mensurar o
uso no mês de álcool, binge de álcool,
tabaco e outras drogas (maconha, inalantes, ansiolíticos, estimulantes,
cocaína, ecstasy e crack) foi utilizado um questionário proposto pela OMS. Para avaliar resiliência, foi aplicada a
Escala de Resiliência. O principal fator da escala, encontrado na validação brasileira, foi nomeado
“resolução de ações e valores”.
As classes econômicas foram mensuradas
pela escala da ABEP. Os dados foram analisados por estatística descritiva,
bivariada (GLM), análise de cluster e regressão logística. O nível de
significância adotado foi de 5%. Os 2691 estudantes que participaram da amostra
apresentaram média de 16 anos (IC=15,9-16,1) e 95,5% eram de classes mais
favorecidas (A e B). A droga mais consumida foi o álcool (50,2%), seguida do
tabaco (14,1%) e outras drogas (11,6%). O consumo binge de álcool foi relatado por 31,8%. A análise de cluster
definiu quatro grupos quanto ao uso de drogas no mês: não usou drogas, álcool,
álcool/binge/tabaco, álcool/binge/tabaco/outras drogas. A resiliência não se
relacionou aos padrões de uso de drogas avaliados nessa população.
Apesar disso, o fator de “resolução de
ações e valores”, que avaliou auto-estima, determinação, disciplina, bom humor,
prontidão para ajuda e adaptabilidade, contribuiu para uma menor chance de uso
de álcool, binge, uso de tabaco e de
outras drogas. Para esse padrão de uso, os principais aspectos protetores foram
a disciplina e a determinação. A disciplina também diminuiu as chances do uso
de álcool, associado a episódios de
binge e uso de tabaco. Esses
resultados ressaltam a relevância de aspectos relacionados a ações e valores,
especialmente disciplina e determinação, para prevenção ao uso de drogas na
adolescência, cuja prática tem sido um grande desafio.
1 INTRODUÇÃO
1.1
Adolescência
Em algumas culturas existe um ritual de
passagem que marca o período de transição da infância para a idade adulta.
Entretanto, na cultura ocidental, de modo geral, não existe um marco definido
para o início ou fim da adolescência. Alguns autores costumam adotar como
referência de início a puberdade e a independência financeira perante os pais
como o fim, outros adotam a idade. Apesar de não existir consenso sobre isso,
parece que há concordância de que nesse período ocorrem inúmeras transformações
físicas e psicossociais importantes para toda a vida.
O corpo muda drasticamente nessa fase do
desenvolvimento e as variações hormonais vêm acompanhadas de alterações de
humor. Tanto os homens como as mulheres atingem maturidade sexual,
caracterizada pelo desenvolvimento dos órgãos genitais e aparecimentos de
características sexuais secundárias, como o nascimento de pêlos nos homens e
mama nas mulheres.
Essas mudanças no corpo vêm acompanhadas
de uma série de outras experiências como o início da vida sexual. Apesar de
estarem com corpos suficientemente desenvolvidos para iniciarem a vida sexual,
parece não ser esse o fator que determina o início. Alguns aspectos
psicossociais influenciam que essa experiência aconteça mais cedo ou mais tarde
na adolescência. Um estudo que acompanhou por um período de dois anos quase
três mil estudantes de distritos urbanos de
New Jersey (EUA) mostrou que,
nesse tempo, 19% dos homens e 9% das mulheres iniciaram suas vidas sexuais. O
início precoce desse comportamento ocorreu em associação com o uso de álcool e
outras drogas, bem como ao fato dos adolescentes terem normas liberais ou terem
amigos mais liberais sobre vida sexual, ou seja, aqueles que acreditavam não
ser necessário esperar ficar mais velho para ter relações ou não ter parceiro
fixo. O aspecto que diminuiu de forma consistente as chances de início das
atividades sexuais no início da adolescência foi ter amigos que tinham como
regra não ter relações naquele momento.
Outro aspecto da maturidade física está
relacionado ao cérebro, especialmente o córtex pré-frontal. Alguns mecanismos
cerebrais, como o sistema de recompensa cerebral (via dopaminérgica
mesolímbica), ao qual está associado o processo de tomada de decisões, ainda
estão imaturos para processar a complexidade de algumas escolhas importantes
nessa idade. Apesar de não ter nada conclusivo, os dados disponíveis na
literatura levam a crer que os adultos são mais competentes em tomar decisões
do que os adolescentes. Um estudo recente, que comparou o comportamento de
adultos e adolescentes sadios, em situações que envolvem reforço positivo,
mostrou que os adolescentes possuem algumas limitações em relação à adequação
de suas respostas. Tal limitação está ligada a antecipação do estímulo,
caracterizada pela ativação do sistema de recompensa cerebral, e dificuldade em
controlar a resposta inibitória até chegar a uma decisão ponderada. Segundo
Chambers e colaboradores, a super estimulação desse sistema cerebral,
concomitante à imaturidade do sistema de controle inibitório, pode predispor o
adolescente a ações impulsivas e comportamentos que envolvem riscos à saúde.
Esse sistema motivacional do cérebro é o mesmo ativado pelo uso de substâncias
psicoativas. Como no adolescente esse mecanismo ainda está em desenvolvimento,
a estimulação do mesmo pelo uso de drogas pode acelerar mudanças neurais que
são próprias da dependência, conferindo ao adolescente vulnerabilidade ao
desenvolvimento desse transtorno mental. No entanto não é apenas a
vulnerabilidade conferida pela imaturidade de sistemas cerebrais que leva os
adolescentes ao uso de substâncias psicoativas.
Do ponto de vista psicossocial a
adolescência é compreendida como um período do desenvolvimento importante para
a consolidação de valores, experiências de novos comportamentos, busca por
identidade, novas referências além da família, adesão a desafios, construção de
uma nova identidade e imagem corporal. A convivência com amigos fora da
supervisão dos pais torna -se uma oportunidade de colocar à prova ou aderir a
outros novos valores e comportamentos. A
família deixa de ser a única referência e os pares passam a exercer uma
influência importante. Esse contexto de maior autonomia, liberdade para novas
experiências, busca por novidades, curiosidade e adesão ao grupo de amigos está
associado ao uso de algumas substâncias. No entanto, não é difícil que a
primeira experiência com bebida alcoólica aconteça na companhia da família. A
inserção cultural da bebida em eventos familiares facilita que o primeiro
contato com essa droga seja na casa dos pais ou de parentes. Apesar de ser
provável que algumas drogas sejam experimentadas até os 16 anos esse
comportamento confere risco à saúde do adolescente.
As experiências e aspectos do
desenvolvimento que permeiam a adolescência são interdependentes. As múltiplas
possibilidades do curso de desenvolvimento psicossocial estão relacionadas à
interação entre características do próprio indivíduo com a família, amigos,
comunidade, outras esferas sociais e do ambiente. Dessa forma, para compreender
quais aspectos estão associados aos desfechos da adolescência, é fundamental
analisá-los a partir do contexto em que foram estudados. Sobre o uso de drogas,
alguns estudos já mostraram que existem aspectos do contexto e do próprio
indivíduo que os deixam mais ou menos
vulneráveis a certos padrões de uso e tipos de drogas.
1.2
Uso de drogas na adolescência
As drogas de abuso podem ser
classificadas de acordo com o efeito que a droga gera no sistema nervoso
central. Existem as drogas depressoras (ex.: álcool, inalantes, ansiolíticos),
estimulantes (ex.: tabaco, cocaína, anfetaminas) e perturbadoras/ alucinógenas
(maconha, ecstasy) do sistema nervoso. Elas possuem em comum a
ativação do sistema de recompensa cerebral, que produz sensação de prazer. No
entanto se diferenciam muito quanto à prevalência de uso, aos efeitos
específicos, contexto de uso e fatores que levam ao uso ou não de alguma
delas.
Segundo dados do CEBRID, as drogas mais
consumidas entre adolescentes são álcool e tabaco. Apesar de terem seu uso
proibido por lei para menores de 18 anos, ambas são precocemente usadas e
livremente vendidas aos adolescentes brasileiros. Um levantamento realizado no
ano de 2004, em 27 capitais brasileiras, com estudantes entre 12 e 18 anos,
indicou que no mês anterior à pesquisa,
44,3% havia consumido algum tipo de bebida alcoólica e 9,9% havia fumado
tabaco. O uso dessas drogas é bastante tolerado pela sociedade e o contexto de
uso favorece a socialização dos adolescentes com seus pares. O álcool provoca sensação de desinibição e favorece a
conversação e interação com os amigos. Especialmente se consumido em maior
quantidade numa mesma ocasião (binge) aumenta a sensibilidade à fase
estimulante e a tolerância à fase depressora. Apesar desse padrão de uso não
trazer os mesmo prejuízos orgânicos do que o uso crônico, a impulsividade e a
perda de reflexos podem trazer prejuízos sociais como o envolvimento em
comportamento sexual de risco e acidentes de trânsito. Em contrapartida, a
intoxicação pelo uso agudo pode gerar desânimo, apatia, irritabilidade,
diminuição da capacidade motora, náuseas, vômitos, entre outros. Já o tabaco é
a droga cujos usuários experimentais na adolescência mais desenvolvem
dependência. A instalação de dependência da nicotina é rápida. Os efeitos aprazíveis dessa droga
são o aumento do estado de alerta e atenção e o desempenho psicomotor, inclusive
em momentos de ansiedade e estresse. No entanto, sua toxicidade é alta e
aumenta a probabilidade de ocorrência de diversas doenças respiratórias e câncer. Devido às altas
prevalências e a quantidade de efeitos prejudiciais à saúde, o álcool e o tabaco
são as drogas que merecem maior foco nas campanhas preventivas.
As outras drogas psicoativas são menos
consumidas pelos adolescentes. Segundo
dados do levantamento citado anteriormente, realizado entre estudantes das 27
capitais brasileiras, 9,8% relataram consumo de inalantes no mês anterior à
pesquisa, 3,2% maconha, 2,5% ansiolíticos, 1,9% usaram anfetaminas e 1,3%
cocaína. O uso de inalantes merece
destaque por ser a terceira droga mais consumida entre estudantes, com
prevalência similar ao tabaco. Essa droga é de fácil acesso por ser componente
de alguns materiais de uso doméstico (ex.: cola de sapateiro, esmalte, acetona,
gasolina) e parece ser de uso mais freqüente em países em desenvolvimento, como
o Brasil. Seu efeito é caracterizado por uma fase inicial de euforia, seguida
de depressão. Os ansiolíticos e anfetaminas são drogas comumente mais usadas
por mulheres em todas as faixas etárias. Ambos são medicamentos de uso
controlado, usados indevidamente sem prescrição médica. As anfetaminas são
utilizadas geralmente como recurso para dietas, pois diminuem o apetite e os
ansiolíticos ajudam no controle da ansiedade. A maconha e a cocaína são drogas consideradas ilegais.
Entre as drogas ilícitas a maconha é a mais consumida no país, especialmente
entre os homens na faixa etária de 18 a 24 anos, cujo uso na vida é de 21,8%. A
cocaína também tem consumo considerável por homens dessa faixa etária, apesar
da prevalência ser menor (14,5%).
A partir dos dados epidemiológicos é
possível notar uma variação de consumo conforme o tipo da droga, contexto no
qual ela é usada e características do indivíduo. Nesse sentido, algumas
pesquisas procuram entender com maior profundidade quais são os aspectos
específicos associados ao uso dessas substâncias nesse período do
desenvolvimento. Um dos fatores identificados como responsável pela progressão
no uso de outras drogas é a idade precoce de início de alguma delas,
especialmente álcool e tabaco. Na busca por evidências associadas ao contexto,
Elgar e colaboradores compararam o padrão de uso de álcool de adolescentes de
34 países com alta e baixa desigualdade de renda. De acordo com esse estudo, os
jovens com 11 e 13 anos de países com alta desigualdade de renda tinham mais
chances de beber, de duas a seis vezes na semana, do que aqueles de países com
baixa desigualdade de renda. Um estudo longitudinal buscou entender como a
busca por sensações, a imagem social sobre os usuários de maconha e a
influência por pares se relacionava ao uso dessa droga. Foi possível observar
que os jovens com alta busca por sensações (sensation seeking) no início da
adolescência assimilavam usuários de
maconha como pessoas legais, interessantes e adoradas por outras
pessoas. Ao longo do tempo esses jovens tendiam a se tornarem amigos e ao final
da adolescência essa relação aumentou significativamente a chance de uso dessa
substância.
Apesar de ser comum na literatura estudos que avaliam apenas um
tipo de comportamento, outros estudos tentam identificar alguns padrões de
comportamentos que se associam ao uso de substâncias psicoativas para então mensurar
qual o impacto para a saúde do adolescente. Uma pesquisa com adolescentes entre
16 e 17 anos constatou que o envolvimento em comportamento sexual de risco e em
brigas é mais provável de ocorrer sob efeito do álcool. Além disso, os efeitos
podem ser colhidos em longo prazo.
Adolescentes dos EUA acompanhados até a
idade adulta que associaram o uso de tabaco ou álcool a outros comportamentos
de risco no início da adolescência (sexo sem preservativo e falta de
exercícios) tiveram mais chances de colherem resultados negativos na idade
adulta (não conseguir dip loma, ser preso e não conseguir emprego).
Segundo Cleveland e colaboradores as
influências sobre o uso de substâncias vêm de diferentes esferas (família,
amigos, escola e comunidade) e variam do início para o final da adolescência. A
família e a comunidade são aspectos que pesam mais no início, para o uso de
álcool, binge de álcool, tabaco e maconha. A influência de
pares e da escola é mais importante, em adolescentes mais velhos, para o
consumo de álcool, binge de álcool e maconha. A família apareceu tanto como influência ao uso como ao não-uso
de tabaco e binge de álcool. Esse resultado, aparentemente
controverso, pôde ser mais aprofundado em um estudo qualitativo com nativos da
zona rural do Havaí. A influência da família foi explicada pelos tipos de relações e posturas estabelecidas entre os
adolescentes e as pessoas da família quanto ao uso de drogas. Por exemplo,
quando o adolescente tinha um irmão ou primo que usava drogas, mas o impedia de
usar, diminuía as chances de uso desse adolescente. No entanto, o fato de conviver com alguém que
usava aumentavam as oportunidades de uso e as chances do jovem experimentar.
Nesse caso, se a família indicava risco ou proteção ao uso dependia da forma
como o adolescente administrava a interação entre as demandas do ambiente e
seus recursos internos.
Durante os últimos vinte anos, a
comunidade internacional tem se mobilizado no sentido de identificar
características dos indivíduos e da comunidade que favoreçam a saúde e
qualidade de vida da população. Segundo Yunes, na Psicologia essa mudança de
foco vem sendo amadurecida através da Psicologia Positiva. Segundo ela, essa
perspectiva otimista de ver o ser humano voltou o foco das pesquisas para
potencialidades e qualidades humanas, ao invés de modelos patológicos.
Esse contexto refletiu em pesquisas
sobre o uso de drogas na adolescência, de modo que recentemente algumas
pesquisas têm buscado compreender o que leva esses jovens a não usarem drogas.
Um estudo que acompanhou estudantes norte americanos durante quatro anos (de 11
a 14 anos) demonstrou que adolescentes com bom autocontrole nessa fase têm
menores chances de fazer uso indevido de álcool, tabaco e maconha. Mesmo entre
os jovens que haviam passado por eventos de vida estressantes, cuja chance
de uso dessas drogas era maior, o
autocontrole gerou esse efeito moderador sobre uso de álcool, tabaco e maconha.
Outro estudo com quase quatro mil adolescentes eslovacos mostrou que
adolescentes mulheres com melhor percepção de futuro e estilo estruturado
tinham menos chances de usarem tabaco e maconha. A coesão familiar também foi
importante entre as mulheres como protetor ao uso de tabaco. Entre os homens, a
coesão familiar diminuiu as chances de uso dessas drogas significativamente.
Ao fazerem essas associações, os autores
discutem que provavelmente tais características individuais estão associadas
como fatores que contribuem ao processo de resiliência.
1.3
Resiliência
O termo resiliência pode ser aplicado
tanto para se referir aos objetos quanto às pessoas. O conceito que se aplica
aos objetos foi inicialmente estudado pela física, tendo sido descrito como a
capacidade de um material ser deformado e retornar à forma original, remete à
flexibilidade do objeto. Os estudos precursores às pesquisas dessa temática nas ciências humanas e da saúde
tiveram como tema a resistência ao estresse e comportamentos adaptativos a ele.
Posteriormente seguiu-se com estudos específicos sobre resiliência com
indivíduos esquizofrênicos, pessoas expostas ao extremo estress e e pobreza,
bem como com pessoas que sofreram traumas precoces em suas vidas e conseguiram
superá-los.
Apesar do conceito de resiliência ainda
se encontrar em construção, artigos que se propõem a discutir esse tema
destacam a importância de saber diferenciá-lo de outros conceitos que aparecem
com freqüência nos estudos a ele relacionados . É primordial saber a diferença
entre fatores de proteção, fatores de risco e vulnerabilidade. O fator de
proteção é aquele que modifica o efeito do risco de modo a diminuir ou anular
um resultado negativo . O fator de risco é aquele associado ao aumento da
probabilidade da pessoa ser afetada ou de um resultado negativo ocorrer . Para
Fergus e Zimmerman, a vulnerabilidade é a situação na qual existe um aumento da
probabilidade de ocorrer um resultado negativo, como conseqüência da exposição
a um fator de risco. Esse conceito está relacionado à suscetibilidade de ser
afetado por algum evento negativo devido a um conjunto de fatores relacionados
ao indivíduo ou suas condições sociais .
Já a resiliência está relacionada a não ocorrência de um resultado negativo
mesmo estando vulnerável a ele. A não diferenciação desses conceitos tem levado
pesquisadores a confundirem as definições, medidas e interpretação de dados
estatísticos.
De modo geral a resiliência é
compreendida como um processo multifatorial desenvolvido ao longo da vida no
qual acontece adaptação positiva, mesmo em contexto adverso ao desenvolvimento
. O desenvolvimento da resiliência envolve um conjunto de fatores individuais
(gênero, temperamento, traços de personalidade, genética, relacionamento com
familiares, amigos, entre outros) e sua interação com o ambiente.
As pesquisas nessa área buscam
identificar fatores de vulnerabilidade e
proteção que possam contribuir para a superação de riscos e também explorar
como se dá a interação entre esses fatores em determinados contextos. Isso
significa que as características identificadas nessas pesquisas conferem
condições ao processo de resiliência nos contextos pesquisados. Seguindo essas
idéias de interatividade e processo, vários pesquisadores ressaltam a
importância de entendermos esses fatores de maneira dinâmica. Além disso, não
podem ser considerados com o fatores que levam à invulnerabilidade ou como
fatores que necessariamente quando não estão presentes geram vulnerabilidade.
Quando as condições mudam, os efeitos também podem mudar.
Um estudo desenvolvido por Rouse e
colaboradores, com estudantes norte
americanos, mostrou de forma bastante objetiva que adolescentes
considerados resilientes não são invulneráveis. Esses pesquisadores foram os
primeiros a criarem um modelo de resiliência a partir de um modelo estatístico.
Cerca de 600 estudantes com idade média
de 13 anos foram acompanhados por dois anos. No primeiro ano foram
identificados alguns fatores (ser filho de pais solteiros, viver com apenas um
dos pais, gênero, comportamento de auto-mutilação e manejo de emoções) que
favoreciam o envolvimento em comportamentos considerados de risco à saúde (uso
de drogas, atividade sexual precoce, ser preso, tentativa de suicídio). No ano
seguinte, os adolescentes que viviam nesse contexto considerado de risco, mas
que tinham baixo envolvimento em comportamentos
de risco, foram considerados “resilientes”. Aqueles que não viviam em
contexto de risco e não se envolveram em comportamentos arriscados foram
considerados “normais” e aqueles que, mesmo sem contexto favorável, se
envolveram nesse tipo de comportamento foram considerados “não resilientes”.
Foi possível constatar que os adolescentes considerados resilientes, apesar de
terem se adaptado bem ao contexto de risco, quando comparados com adolescentes
normais possuíam pior auto-estima, tinham mais chances de se envolveram em comportamentos
de risco e de consumirem álcool, maconha e outras drogas. Em contrapartida, os
adolescentes “não resilientes”, quando comparados aos resilientes, tinham esses
mesmos indicadores piores.
Segundo Fergus & Zimmerman, de
acordo com os resultados de pesquisas, é possível identificar três modelos de
resiliência que explicam como alguns fatores protetores modificam os efeitos
negativos da exposição ao risco. Os modelos são definidos por esses autores
como: “modelo compensatório”, “modelo protetor” e “modelo de desafio”. O
“modelo compensatório” ocorre quando um
fator de proteção neutraliza ou opera no sentido oposto a um fator de risco.
Esse efeito implica em uma moderação direta do fator protetor sobre algum resultado,
que pode ser independente do efeito do
fator de risco. Segundo os autores tal modelo pode ser avaliado através de
análise de regressão múltipla. No “modelo protetor” existem aspectos que moderam ou reduzem os
efeitos do risco sobre um resultado negativo. Já o “modelo de desafio” segue a seguinte
lógica: contextos com níveis moderados de risco podem desencadear aprendizagem
de como os adolescentes expostos podem superá-los, mas quando a exposição ao
risco é exagerada a superação não é possível. Nesse modelo os fatores de risco e de proteção são as mesmas variáveis,
o que vai determinar se ele será um ou outro será o nível de exposição ao
risco. Esse modelo, quando estudado na perspectiva de desenvolvimento
(metodologia longitudinal), sugere que pequenas doses de risco preparam os
adolescentes para os desafios futuros.
Com freqüência, as pesquisas em
resiliência definem como contexto de risco ou contexto de vulnerabilidade as
condições de pobreza, condições de imigrantes e outros contextos referentes a
condições sociais desfavoráveis. Uma pesquisa com 59 jovens em situação de rua,
que buscou analisar, entre outros objetivos, como a resiliência se relacionava
a alguns fatores de risco e proteção nessa amostra, identificou que quanto
maior a resiliência menor o sentimento
de solidão, desesperança e alguns comportamentos que envolviam risco de
vida. Outra pesquisa com adolescentes de escolas rurais da Pensilvânia (EUA)
mostrou que os homens mais novos, com altos níveis de otimismo, percepção de
suporte familiar e poucos eventos de vida adversos possuíam altos níveis de
resiliência. Da mesma forma, os homens no final da adolescência, com altos
níveis de otimismo, percepção de suporte familiar e dos amigos, mesmo tendo
vivido eventos de vida adversos, também mostraram níveiselevados de resiliência.
No entanto, existe uma forte crítica
sobre convencionar esses contextos como ambientes de risco, uma vez que
indivíduos que experimentam fartura e saúde não estão livres de estresse.
Especialmente em países como o Brasil,
onde existe insegurança de classes mais ricas em serem assaltadas,
seqüestradas ou outra experiência ruim. Apesar de não se ter conhecimento sobre
como ocorre a resiliência em classes economicamente favorecidas, seria
incoerente pressupor que a resiliência não existe nesse contexto.
Uma revisão recente da literatura sobre
resiliência e uso de drogas destacou a resiliência como uma estratégia de
enfrentamento, com possibilidades de contribuição para a autonomia, competência
social, auto-regulação e inteligência do adolescente. Os estudos revisados
parecem indicar que jovens com resiliência mais desenvolvida tendem a consumir
menos álcool, cigarro e outras drogas e, dessa forma, estudos dessa temática
podem ser úteis ao desenvolvimento de programas preventivos ao abuso das
drogas. Um estudo desenvolvido na Nova Zelândia, que acompanhou uma coorte
durante 15 anos, desde o nascimento, buscou identificar quais aspectos
contribuíram para a resiliência dos adolescentes. Foram considerados preditores
de resiliência os fatores que protegiam os adolescentes da influência dos
amigos sobre o uso de cigarro. Os dados sugeriram que um pouco de “rebeldia”
(rebelliousness) era importante para que o adolescente não fosse influenciado
pelo amigo fumante a fumar também. Outro dado interessante foi que entre os
adolescentes que haviam experimentado cigarro antes dos 15 anos, foi
determinante que eles não tivessem amigos fumantes para que continuassem
abstinentes até completar essa idade.
Pesquisas a respeito de como a
resiliência está relacionada ao uso indevido de drogas tornam-se ferramentas
preciosas para as escolas, os familiares, as equipes de saúde e até mesmo a
comunidade, na promoção da saúde dos adolescentes . Portanto, é necessário
conhecer mais sobre esseconstructo para construção de conhecimento que dê base
à elaboração de programas preventivos focados em resiliência, especialmente no
Brasil, onde faltam estudos sobre resiliência e uso de drogas entre
adolescentes.
Diante da potencial relevância da
resiliência para a compreensão do comportamento de uso de drogas, foi feita a
escolha desta temática para o presente estudo. Com base nos indicadores de
dados da literatura, a hipótese a ser verificada é a de que maiores níveis de
resiliência e dos fatores que compõem esse constructo, entre os adolescentes,
estão relacionados com menores chances de uso de substâncias psicoativas.
2 OBJETIVO
2.1
Geral
O objetivo desse estudo foi explorar
como a resiliência e os fatores que compõem esse constructo se relacionam aos
diferentes padrões de uso de drogas por adolescentes.
2.2
Específicos
A.
Avaliar o nível de resiliência e dos fatores que compõe esse constructo
em relação aos padrões de uso de álcool, tabaco e outras drogas no mês que
antecedeu a pesquisa;
B.
Investigar como a resiliência e os fatores que compõem esse constructo
estão relacionados aos diferentes padrões de uso de álcool, tabaco e outras
drogas, considerando fatores sócio-demográficos como gênero e classe
sócio-econômica.
3 MÉTODO
3.1
Amostragem
A pesquisa foi realizada com 2.691
estudantes de ensino médio da rede particular do município de São Paulo, que
conta com um universo de 136 mil alunos de ensino médio matriculados em 578
escolas particulares. O plano de amostragem, desenhado por estratificação e
conglomerados, teve como objetivo selecionar uma amostra representativa, com
erro amostral de no máximo 10% e intervalo de confiança de 95%. As escolas
foram estratificadas segundo a renda média do distrito de sua localização
(escolas localizadas em bairros de baixa e alta renda) e o nº de alunos
sorteados foi proporcional à quantidade de alunos dos estratos. A amostra foi
sorteada em três estágios. No primeiro foram sorteadas as escolas e, em
seguida, foram sorteados conglomerados de turmas. Por fim, todos os alunos dos
conglomerados sorteados entraram para amostra.
Participaram do estudo 28 escolas, entre
as quais foram pesquisadas 103 turmas de ensino médio. Dez escolas se recusaram
a participar, sendo substituídas por outras do mesmo estrato. Entre os alunos
foram 6 recusas.
3.2
Instrumentos
3.2.1
Uso de substâncias
O padrão de uso de drogas foi avaliado
por um questionário fechado, de auto-preenchimento e anônimo. Esse questionário
é uma adaptação do instrumento proposto pela OMS – Organização Mundial da Saúde. No Brasil, o questionário
foi testado e adaptado por Carlini-Cotrim e colaboradores.O questionário
incluiu perguntas sobre gênero, idade e o padrão de uso de drogas. Os
indicadores do uso de drogas analisados foram referentes ao uso no mês de
álcool, tabaco, maconha, cocaína, inalantes, ansiolíticos, estimulantes,
ecstasy e crack. As perguntas seguiram o modelo: De um mês para cá, ou seja, nos últimos 30
dias, você tomou/usou ....? As opções de respostaforam: não; de 1 a 5 dias; de
6 a 19 dias; 20 dias ou mais. A
freqüência de binge de álcool foi avaliada através da pergunta: De um mês para cá, ou seja, nos últimos 30
dias, quantas vezes você tomou 5 doses ou mais de bebida alcoólica na mesma
ocasião? As opções de resposta foram: nenhuma vez; 1 vez, 2 vezes; 3 a 5 vezes;
6 a 9 vezes; 10 ou mais vezes.
3.2.2
Classe Econômica
A avaliação das classes econômicas
seguiu o Critério de Classificação Econômica Brasil 2008, utilizado pela ABEP.
A pontuação da escala é baseada no grau de instrução do chefe da família e de
bens de consumo possuídos pela mesma, podendo variar de 0 (zero) a 47 pontos. A
partir dessa pontuação os níveis econômicos são classificados de A até E, sendo
“A” a classe econômica mais favorecida.
3.2.3
Resiliência
Para avaliar a Resiliência, foi
utilizada a Escala de Resiliência originalmente desenvolvida nos Estados Unidos
por Wagnild & Younge validada para adolescentes brasileiros por Pesce e
colaboradores. Essa escala avalia o conceito de resiliência como uma
característica positiva da personalidade e objetiva medir os níveis de adaptação
psicossocial positiva frente a eventos de vida importantes. O instrumento é de
auto-aplicação e composto de 25 afirmativas, cada qual com alternativas de
resposta que seguem uma escala do tipo
likert, variando de 1 a 7 (discordo totalmente a concordo totalmente).
Dessa forma, os escores variam de 25 a 175 pontos, sendo que quanto maior a
pontuação, maior a resiliência. A
análise fatorial realizada na validação brasileira, através do método de
rotação oblíqua, encontrou três fatores . O fator um englobou a maioria das
questões, e foi nomeado “resolução de ações e valores” e avalia algumas
características da auto-estima, determinação, disciplina, bom humor, prontidão
para ajuda e adaptabilidade. O escore desse fator pode variar entre 14 e 98.
Na amostra do presente estudo a
consistência interna das respostas da Escala de Resiliência e dos seus três
fatores foi analisada pela estatística do Alpha de Cronbach. Um alpha
acima de 0,75 indica boa confiabilidade nas respostas. A escala de
resiliência demonstrou, neste estudo, boa consistência interna (α=0,83),
indicando que de forma geral os estudantes foram coerentes em suas respostas. O
fator um foi o que demonstrou melhor
consistência interna (α=0,81) entre os três fatores. Devido à baixa
consistência interna nas respostas dos fatores dois (α =0,41) e três (α =0,54),
ambos não entraram nas análises.
3.3
Procedimentos para coleta de dados
3.3.1
Ética
A pesquisa foi avaliada e aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CEP 0268/08).
De acordo com orientações do CEP, o termo de consentimento foi assinado pela
diretoria da escola. No entanto, dias antes das aplicações os alunos recebiam
um termo de consentimento passivo a ser
entregue aos pais ou responsáveis. Esse documento continha informações sobre a
pesquisa, incluindo a data de realização da coleta de dados na referida escola.
Os pais que não autorizassem a participação de seu filho deveriam encaminhar o
documento assinado à escola, para que no dia o aluno não participasse da
pesquisa. No entanto, não foi relatado qualquer caso de impedimento de
participação na pesquisa.
3.3.2
Estudo Piloto
Foi realizado um estudo piloto da
aplicação do questionário sobre uso de drogas, que ocorreu em uma escola
pública de São Paulo. Participaram 310 alunos entre 12 e 18 anos. O objetivo
foi revisar questões que pudessem gerar dúvida nos alunos e verificar o tempo
despendido para responder ao questionário.
A partir dessa aplicação piloto, as
respostas para as dúvidas que surgiram foram padronizadas entre os aplicadores.
Algumas questões foram modificadas de modo que ficassem mais fáceis de serem
compreendidas e alterações de layout precisaram ser feitas. A versão final do
questionário está apresentada em anexo (Anexo).
3.3.3
Contato com as Escolas
As escolas sorteadas foram inicialmente
contatadas por telefone na tentativa de agendamento de visita. Feito esse
contato, a escola era visitada pela equipe
do CEBRID a fim de explicar com detalhes os objetivos e procedimentos da
pesquisa. Nessa visita, também eram apresentados materiais de pesquisas
anteriores realizadas pelo CEBRID, visando munir a escola de material sobre
epidemiologia do uso de drogas, bem como apresentar a forma de publicação dos
dados da pesquisa. Havendo o aceite, eram coletadas informações sobre o número
de turmas para que fosse realizado o sorteio das mesmas. Após o sorteio, um
novo contato era feito para o agendamento da data de aplicação.
A maior dificuldade encontrada na
pesquisa ocorreu durante contato com as escolas particulares. Foi fundamental a
perseverança com algumas escolas que, além de várias ligações, foram
necessárias mais de duas visitas para esclarecimentos sobre a pesquisa. Entre
as escolas que recusaram, os principais motivos informados foram:
1.
Restrições quanto ao calendário escolar;
2.
Falta de interesse da escola em participar da pesquisa;
3.
Problemas de comunicação/organização escolar impossibilitaram o contato
com a diretoria da escola;
4.
Discordância em relação à metodologia e/ou ao questionário da pesquisa;
5.
Experiências mal-sucedidas com outras pesquisas realizadas anteriormente
na escola.
3.3.4
Aplicação dos questionários
A equipe que aplicou os questionários
passou por um treinamento. O objetivo foi instruir os aplicadores sobre a
pesquisa, capacitar a equipe em relação aos procedimentos em campo (postura e
instruções em sala de aula), apresentar e familiarizar os aplicadores com o
questionário. Outro assunto especialmente contemplado foi a sensibilização dos aplicadores
sobre a importância da coleta para a qualidade da pesquisa.
Antes de se iniciarem as aplicações, o
termo de consentimento era assinado pelo responsável da escola. As aplicações
foram feitas simultaneamente nas turmas de cada escola, geralmente antes do
intervalo. Na maioria das vezes entravam dois aplicadores por turma, no entanto
isso variava de acordo com o número de turmas da escola e alunos presentes. No
início os alunos eram instruídos sobre os objetivos da pesquisa, como responder
ao questionário, a respeito do anonimato e sigilo de informações, bem como
sobre a participação voluntária e importância da participação de todos. Os
alunos levaram cerca de 30 a 40 minutos para responderem ao questionário. No
final das aplicações, os questionários eram recolhidos, colocados em um
envelope e levados para o CEBRID.
Após a aplicação, para o controle na
digitação dos dados e análise dos extratos, os questionários foram numerados
com código pré-estabelecido (com informações sobre a escola, a turma e o turno).
A cada escola pesquisada, os aplicadores também preenchiam um diário de campo,
com informações sobre as dúvidas e comportamentos dos alunos, imprevistos,
número de turmas aplicadas no dia, para controle da equipe de pesquisa e
crítica dos dados.
3.4
Crítica e análise estatística dos dados
Os questionários passaram por processo
de dupla digitação. Na análise crítica dos dados foram excluídos 15
questionários que apresentaram contradição em pelo menos três respostas, que relataram ter consumido drogas
que não existiam (questão inserida no questionário para diminuir casos
falso-positivos) ou que estavam rasurados.
Para fins de análises, a categoria
“outras drogas” foi criada a partir do uso no mês de maconha, cocaína,
inalantes, ansiolíticos, estimulantes, ecstasye
crack. Para analisar as classes econômicas, foi necessário agrupar as
classes “C, D e E” em uma mesma categoria. As respostas das questões da escala
de resiliência também foram agrupadas em duas categorias: as categorias
“discordo pouco”, “discordo muito”, “discordo totalmente” e “nem discordo, nem
concordo” foram condensadas em “não concordo” e as categorias “concordo pouco”,
“concordo muito” e “concordo totalmente” foram condensadas em “concordo”. Tais
recategorizações foram necessárias devido ao baixo número de casos em algumas
categorias.
As análises foram calibradas com os
pesos amostrais dos alunos, respeitando as etapas do plano amostral. Todas
foram feitas no software estatístico
SPSS for Windows versão 17, através
do módulo complex samples. A única
exceção foi a análise de cluster,
realizada no módulo Two-Step Cluster,
através do método BIRSCH (Balanced
Iterative Reducing and Clustering using Hierarchies). Através dessa análise
foram gerado s grupos homogêneos de jovens quanto ao padrão de uso no mês de
álcool, binge, tabaco e outras drogas.
Estatísticas descritivas foram
utilizadas para caracterização da amostra. As comparações bivariadas entre os
grupos gerados na análise de cluster foram
realizadas através do Modelo Linear Geral (GLM) para variáveis escalares
e categóricas. Para todos os testes estatísticos foi adotado um nível de
significância de 5%. Foram ajustados dois modelos de regressão logística para
compreender a relação entre os padrões de uso e a resiliência. No modelo de
regressão descrito na tabela 6 entraram as seguintes variáveis explicativas:
gênero, classe econômica, o escore total da escala de resiliência e o escore do
fator 1 “resolução de ações e valores”. No modelo exposto na tabela 7
entraram como variáveis explicativas: gênero, classe econômica e as 15
questões do fator “resolução de ações e valores”. As variáveis não
significantes a 5% foram eliminadas pelo método de seleção backward.
Apesar de não ter sido objetivo deste
estudo avaliar gênero e classe econômica, ambos entraram nos modelos como
variáveis de controle por terem sido características da amostra que se
relacionaram ao uso de substâncias.
4 RESULTADOS
A idade dos 2.691 estudantes
pesquisados variou entre 14 e 20 anos,
mas a maioria tinha entre 15 e 16 (média=16,03/ IC=15,9-16,1). Não houve
predominância de gêneros, porém, com relação à classe econômica prevaleceram as
classes mais altas (A e B), que compuseram 95,5% da amostra. Quanto às turmas
de ensino médio, quase 40% dos participantes eram do primeiro ano, praticamente
um terço era do segundo ano e menos de um terço era do terceiro ano. Com
relação à Escala de Resiliência, para 95% da amostra o escore geral variou
entre 128,7 e 131,0. O escore do fator “resolução de ações e valores” também
variou pouco, sendo que 95% da amostra pontuou entre 77,2 e 78,8. O mesmo
ocorreu para os fatores dois e três, que variaram de 25,0 a 25,8 e 26,1 a 26,5
respectivamente. Cerca de 90% dos estudantes concordou com a questão 16 “Eu
normalmente posso achar motivo para rir” ,
e mais de 85% concordou com as questões 6, “Eu sinto orgulho de ter
realizado coisas em minha vida”; 18 “Em uma emergência, eu sou uma pessoa em
quem as pessoas podem contar” e 21 “Minha vida tem sentido”.
As questões 7, “Eu costumo aceitar as coisas sem muita
preocupação"; 11 ”Eu raramente penso sobre o objetivo das
coisas” ; 12 “Eu faço as coisas um dia de cada vez” e 22
“Eu não insisto em coisas as quais eu não posso fazer nada sobre elas”,
tiveram as menores porcentagens de concordância (27,5%, 38,9%, 40%, e 41,9% respectivamente). A questão 12
teve maior freqüência de respostas neutras (26,7%) e cerca de um terço de
discordância.
Entre as drogas referidas, o álcool foi
a mais prevalente. Metade dos entrevistados fez uso de álcool no mês que
antecedeu a pesquisa e cerca de 1/3
teve, pelo menos, um episódio de binge. O uso no mês de tabaco foi relatado por
14,1% da amostra. A droga ilícita mais consu mida no mês foi a maconha (6,1%),
seguida por inalantes (4,0%). Menos de 2,0% da amostra consumiu estimulantes,
ansiolíticos, cocaína, ecstasy e crack.
A análise de cluster propiciou a
formação de quatro grupos bem definidos de acordo com o tipo de droga consumida
e a freqüência de uso no mês. O primeiro e maior grupo foi constituído por
estudantes que não usaram droga no mês que antecedeu a pesquisa. No segundo
grupo, todos os estudantes usaram somente álcool entre um e cinco dias no mês. No terceiro grupo (álcool/ binge/ tabaco), todos consumiram álcool de um
a cinco dias no mês, sendo que 94,2% teve pelo menos um episódio de binge
e 26% consumiu tabaco. No quarto
e último grupo (álcool/ binge/ tabaco/
outras drogas) o consumo de álcool, tabaco e
binge foi mais freqüente e houve
relato de uso de outras drogas. 77,7% do grupo usou álcool, sendo que cerca de
50% usou álcool seis dias ou mais no mês e praticou binge
pelo menos três vezes; 42,5% consumiram tabaco, sendo que 15,8% usaram por 20 dias ou mais e 60,2% relataram uso de outras drogas.
Os quatro grupos se diferenciaram
estatisticamente quanto ao gênero (X2=38,316; p=0,002) e classe econômica
(X2=71,282; p=0,000). No grupo que não usou drogas houve distribuição simi lar
à esperada entre homens e mulheres, no entanto se caracterizou por uma
porcentagem significativa de indivíduos da classe B (56,8%) e menos
participantes da classe A (37,9%). No grupo que usou somente álcool de um a
cinco dias houve predominância de mulheres (65,9%), em contrapartida a
distribuição quanto à classe econômica foi próxima a esperada. No terceiro
grupo (álcool/ binge/ tabaco) pouco mais
da metade era do gênero masculino (54 ,9%) e não houve diferença estatística
quanto à classe econômica. No quarto
grupo (álcool/ binge/ tabaco/ outras
drogas) a distribuição entre os gêneros não foi diferente da esperada, no
entanto mais da metade (58%) estava na classe A e 40,6% na classe B. As médias,
tanto do escore total de resiliência (F3,22=1,177;p=0,341) quanto do fator 1
“resolução de ações e valores” (F3,22=2,172;p=0,120), foram estatisticamente
iguais entre os grupos.
O modelo de regressão logística exposto
na Tabela 6 mostra que o gênero, a classe econômica e a
resiliência estabeleceram relações diferentes com cada padrão de consumo. O
escore total da escala de resiliência não se mostrou relacionado aos grupos, no
entanto o fator de “resolução de ações e valores” se mostrou inversamente associado ao padrão de uso do grupo quatro
(álcool/binge/tabaco/drogas ilícitas). A cada ponto aumentado no fator
“resolução de ações e valores” a chance de ter tido esse padrão de uso foi
menor em cerca de 3%. Por exemplo, compararmos os participantes com dez pontos
de diferença nesse fator. Aqueles com 10 pontos a mais têm 38% a menos de
chance de pertencer ao grupo álcool/
binge/ tabaco/ outras drogas (cálculo:100(1,0310-1)). Esse padrão de uso
também de relacionou significativamente com a classe econômica, mas, no
entanto, não sofreu influência do gênero. O oposto ocorreu com o grupo que se
caracterizou pelo uso de álcool, binge e tabaco, que teve como aspecto relevante
apenas o gênero. Já para o grupo com padrão de uso leve de álcool tanto o
gênero como a classe econômica foram importantes.
Na regressão logística mostrada na Tabela 7,
a contribuição do gênero e da classe social para cada grupo se manteve
praticamente a mesma. A principal diferença foi quanto à relação estabelecida
entre as questões que compõem o fator
“resolução de ações e valores” e os diferentes padrões de uso de substâncias. No grupo caracterizado somente pelo uso de álcool
os adolescentes que concordaram com a questão 16 “eu normalmente posso achar
motivo para rir”, tiveram 1,7 vezes mais chances de ter pertencido ao grupo. No
outro grupo, composto por participantes que usaram álcool, binge
e tabaco, foi a questão 18, “em uma emergência, eu sou uma pessoa em
quem as pessoas podem contar”, que aumentou as chances de ter tido esse padrão
de consumo (OR=2,631). No entanto, ter concordado com as questões 12 “eu faço as coisas um dia de cada vez”
(OR=0,745) e 14 “eu sou disciplinado” (OR=0,395) diminuíram essa probabilidade.
Da mesma forma, ter concordado com essas duas últimas questões (OR12=0691 e OR14=0,310) diminuiu as chances de ter
pertencido ao grupo caracterizado pelo uso de álcool, binge, tabaco e outras drogas. Além disso,
também tiveram diminuídas as chances de pertencer a esse grupo aqueles que
concordaram com a questão 1 “Quando eu
faço planos, eu levo eles até o fim” (OR=0,629).
São Paulo é a maior cidade da América do
Sul, uma metrópole com quase 20 milhões de habitantes e desenvolvimento
econômico muito superior à maioria das cidades brasileiras. No Brasil,
estudantes de escolas particulares se diferenciam por serem de classes mais
favorecidas do que estudantes de escolas públicas. Seguindo essa lógica a maior
parte dos estudantes entrevistados era das classes A e B, representando uma
população de poder aquisitivo privilegiado.
A análise de clusters permitiu a
identificação de quatro grupos bem definidos quanto ao tipo de drogas e
freqüência de consumo. Na regressão logística, os grupos apresentaram
importantes diferenças de gênero e classe econômica. Em relação ao gênero, em
acordo com outros estudos com adolescentes, o maior uso entre os homens não
aconteceu para todos os padrões de consumo estudados. Uma revisão de
levantamentos epidemiológicos entre adolescentes concluiu que nem sempre é comum encontrar essa diferença de consumo
entre homens e mulheres. De acordo com os autores, essas discrepâncias começam
a aparecer conforme a idade aumenta. Em relação a classe econômica, uma
pesquisa anterior com estudantes brasileiros também encontrou maior uso entre estudantes de classes mais
favorecidas. Tais evidências nos levam a pensar que no contexto em que vivem
estudantes de escolas particulares no Brasil, o maior poder aquisitivo talvez
favoreça o consumo de álcool e outras drogas. A presente pesquisa abre
precedentes para a importância em diferenciar programas preventivos ao uso de
drogas na adolescência para classes mais favorecidas. No Brasil, essa parece
ser uma diferença importante que merece ser melhor investigada.
A hipótese de que a resiliência
contribuiria para um menor consumo de drogas foi confirmada parcialmente.
Embora o conceito como um todo não tenha apresentado a associação esperada, a
análise isolada de seus fatores levantou resultados significativos. O fator
“resolução de ações e valores” diminuiu significativamente as chances de padrão
de consumo com maior freqüência de uso
binge associado ao uso de tabaco
e outras drogas. Esse fator que avaliou aspectos da auto-estima, determinação,
disciplina e adaptabilidade, se soma aos resultados de pesquisas anteriores.
Pesquisas recentes mostraram que características positivas do indivíduo como a
auto-regulação, auto-estima, auto-confiança, aceitação de si mesmo, percepção
do futuro e de si mesmo e capacidade de resolução de problemaslevam o foco para
comportamentos mais saudáveis na adolescência.
Assim como em outras pesquisas, os resultados apontaram que aqueles
indivíduos que têm a probabilidade maior de fazer uso de drogas, podem sofrer
influência positiva de algumas características individuais, diminuindo a
probabilidade de se envolverem nesse tipo de comportamento de risco . Com base
nos pesquisadores Fergus e Zimermman, esse modelo de resiliência é coerente com
outros estudos, podendo ser chamado de modelo compensatório.
Existem evidências entre adultos de
classe mais alta que indicam aspectos da competência pessoal do individuo (por
exemplo: saúde física, controle emocional e habilidade social) como protetores
ao uso de álcool. No Brasil um estudo, também com adultos, indicou que existem diferenças
significativas sobre padrões de uso de álcool entre classes econômicas mais
favorecidas e menos favorecidas economicamente. Dessa forma, seria interessante
que outros estudos fossem feitos na tentativa de compreend er quais os fatores
que conferem proteção e vulnerabilidade entre adolescentes dessa classe
econômica.
Dentro do fator “resolução de ações e
valores”, quando analisadas as questões isoladamente, os aspectos protetores
relevantes foram a disciplina (“eu sou disciplinado” e “eu faço as coisas um
dia de cada vez”) e a determinação (“quando eu faço planos, eu levo eles até o
fim”). É importante ponderar que a questão “eu faço as coisas um dia de cada
vez” foi a que teve maior índice de respostas neutras (26,7%). Isso pode
indicar que houve dúvidas quanto a sua interpretação. A disciplina também
diminuiu a probabilidade de envolvimento com uso de álcool associado a
episódios de binge e uso de tabaco, mesmo entre os homens, cuja
chance de se envolver com esse padrão de uso foi maior. Na adolescência começa a aumentar a
freqüência de momentos não supervisionados por adultos. Nesse sentido, ter uma
formação que facilite a auto -regulação é fundamental para a tomada de decisões
que levem a comportamentos saudáveis.
Os dados da presente pesquisa podem ser
úteis para promoção da saúde na adolescência, na medida em que apontam que para
prevenir o uso mais pesado de drogas talvez seja interessante investir em uma
gama de aspectos de resiliência, mais especificamente relacionados a ações e
valores. Por outro lado, é importante considerar que esse fator da resiliência
possa ser mais um dos aspectos a serem valorizados pelos programas de promoção
da saúde. A redução da vulnerabilidade a partir do investimento em hábitos,
características internas e ambientes saudáveis ao desenvolvimento é exatamente
o objetivo das intervenções preventivas que se pautam no processo de
resiliência. Alguns trabalhos com esse foco têm se mostrado eficazes para
diminuir o abuso de substâncias na adolescência.
A resiliência e o fator de “resolução de
ações e valores” parecem ser características que não explicam os dois padrões
de uso de drogas lícitas encontrados (álcool de um a cinco dias/ álcool com
episódios de binge e uso de tabaco). Considerando que o uso de
álcool e tabaco é normativo nessa população, faz sentido que a chance de uso de
drogas lícitas não varie conforme a resiliência e o fator de “resolução de
ações e valores”. O consumo de bebidas alcoólicas está inserido na cultura de
várias famílias e, comparado com outras drogas, conta com uma menor percepção
de risco pela população. Segundo Ahern e colaboradores a permissividade de uso
de álcool pela cultura local aumenta as chances de uso moderado de álcool,
enquanto que permissividade sobre
padrões mais pesados aumenta as chances de uso moderado e binge.
Contrário ao que era esperado, os
adolescentes que concordaram com algumas questões do fator “resolução de ações
e valores” tiveram mais chances de se envolverem com os padrões de uso de
drogas. A questão “em uma emergência, eu sou uma pessoa em quem as pessoas
podem contar”, interpretada como um indicador de prontidão para ajuda, aumentou
a probabilidade de uso de álcool associado a episódios de binge
e uso de tabaco.Da mesma forma, concordar com a questão “eu normalmente
posso achar motivo para rir”, que indica bom humor, aumentou as chances de ter
usado álcool de um a cinco dias no mês. Se pensarmos no uso de álcool na
adolescência como um fenômeno social, um facilitador das relações sociais pelos
seus efeitos de descontraçãoe como um momento em que os amigos passam a ser uma
referência, além da família.
Torna-se possível vislumbrar a
possibilidade da
formação
de redes de amizades através do uso de álcool e taba co nessa população. Nesse
caso, além da descontração, a facilidade de acesso e disponibilidade a uma rede
de pessoas, pode ser um facilitador para que a mesma seja requisitada em
situações de emergência. Um estudo realizado por Sanchez e
colaboradoressustenta essa idéia na medida em que identificou, na mesma amostra
do presente estudo, que o principal aspecto que contribui para o padrão de
uso binge de álcool foi sair à noite com amigos para
bares e restaurantes. Outra pesquisa que buscou relacionar resiliência ao uso
de maconha e tabaco entre escolares encontrou que quanto melhor a competência
social desses adolescentes maior a chance de uso dessas drogas.
Outra possível explicação para esse
resultado que remete à heterogeneidade do fator “resolução de ações e valores”,
quanto à relação com o uso de substâncias, é o uso da escala fora do contexto
em que foi criada. Em um contexto de adversidades, alguns pesquisadores apontam
que o bom humor é um fator de resiliência importante para “encontrar o cômico
na própria tragédia” . No entanto, como não temos um contexto adverso, não faz
sentido pensarmos nessa afirmativa como uma estratégia de lidar com eventos
estressores. Esse tipo de resultado, aparentemente controverso, tem sido
encontrado em estudos rece ntes que procuram fatores protetores aos
comportamentos de risco na adolescência.
Por exemplo, Dubow e colaboradores
encontraram que a popularidade e o alto nível de escolaridade na adolescência
são preditores para freqüência do uso de álcool na idade adulta. Pesquisadores
de diversas áreas têm ressaltado que para mensurar fatores de risco e proteção
à saúde dos adolescentes é fundamental a contextualização dos mesmos. Alguns
estudos parecem corroborar a idéia de que um mesmo fator pode ser considerado
risco ou não dependendo do contexto no qual se insere. As evidências da
presente pesquisa mostram a importância de conhecer quais as relações que
algumas características do indivíduo estabelecem com o uso de drogas nas
diferentes culturas, idades, gêneros e contextos sócio-econômicos, para que os
programas de promoção da saúde para adolescentes ponderem suas propostas. Dessa
forma, o uso dos resultados da presente pesquisa em outros contextos pode não
ser coerente, visto que se trata de uma população específica (estudantes de
ensino médio de escolas particulares de São Paulo).
Apesar da Escala de Resiliência ter sido
considerada a melhor escala para avaliar resiliência em adolescentes entre as
disponíveis, a aplicação da mesma em adolescentes brasileiros apontou algumas limitações. Os
fatores dois e três não foram incluídos nas análises devido à baixa
confiabilidade, demonstrada pela estatística do
Alpha de Cronbach. Possivelmente as questões que compõem esses fatores
foram interpretadas como características
negativas nesse contexto de adolescentes. Parece ter havido uma interpretação
invertida para a questão 11 “Eu
raramente penso sobre o objetivo das coisas”, uma vez que a maioria dos
adolescentes discordou dessa questão. Se fosse esse o caso, a pontuação para
essa questão deveria ter sido invertida.
A escala original foi construída a
partir do discurso de mulheres resilientes que viveram adversidades na vidae
provavelmente alguns aspectos de resiliência relevantes para essa população
sejam diferentes do que para adolescentes. O fato dessa população de
adolescentes não viver num contexto adverso pode ter contribuído para que o
escore geral de resiliência não fosse significativo. Além disso, a resiliência
acontece a partir de um processo multifatorial que envolve interação de
características do indivíduo e esferas do contexto social (ex. família,
cultura, recursos disponíveis). Tanto o método transversal, como o conceito de
resiliência, avaliado pela escala, limitou a avaliação desse processo de
interação que caracteriza a resiliência. No entanto, deve-se considerar que o
conceito ainda se encontra em construção e pesquisadores têm encontrado
dificuldades metodológicas devido à diversidade de medidas usadas para mensurar
esse constructo. Tendo isso em vista, com a devida ponderação, o uso da escala
pode contribuir para pesquisas sobre resiliência, embora os dados da presente
pesquisa nos levam a pensar que a escala precisa ser revista quanto ao uso com
adolescentes brasileiros. Tanto nos itens que compõem a escala, quanto na
capacidade da escala em avaliar resiliência em adolescentes.
6 CONCLUSÃO
A resiliência, tal como é proposta pela
escala, não se relacionou aos padrões de uso de drogas avaliados nessa população.
Apesar disso, o fator de “resolução de ações e valores”, que avaliou
auto-estima, determinação, disciplina e adaptabilidade, se apresentou
relacionado a uma menor probabilidade do abuso de álcool e tabaco associado ao
uso de outras drogas. Os principais aspectos protetores desse fator foram a
disciplina e a determinação. Os resultados indicam a relevância de alguns
aspectos da resiliência na prevenção ao uso de drogas em adolescentes. Na prática, a inclusão de estratégias que
promovam ações e valores, com foco em disciplina e determinação, ao longo do
desenvolvimento do adolescente, pode contribuir com a prevenção.
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Fontes Adicionais:
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